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Megaoperação prende 46 pessoas na BA e em outros 5 estados por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e disputa de territórios

Mais de trinta suspeitos são presos em operação contra o tráfico Uma megaoperação na Bahia e em outros cinco estados prendeu 46 pessoas na manhã desta qu...

Megaoperação prende 46 pessoas na BA e em outros 5 estados por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e disputa de territórios
Megaoperação prende 46 pessoas na BA e em outros 5 estados por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e disputa de territórios (Foto: Reprodução)

Mais de trinta suspeitos são presos em operação contra o tráfico Uma megaoperação na Bahia e em outros cinco estados prendeu 46 pessoas na manhã desta quinta-feira (11), suspeitas de integrar um grupo criminoso especializado em tráfico de drogas, crimes patrimoniais, lavagem de dinheiro e disputa de territórios. Um dos alvos presos é o capitão da Polícia Militar Mauro Grunfeld. Ele foi preso em maio e em julho de 2024, mas respondia em liberdade, suspeito de participar de um esquema de compra e venda de armas que abastecia facções criminosas na Bahia. O g1 tenta localizar a defesa do militar, mas não conseguiu contato até a publicação desta reportagem. Segundo a Polícia Civil, a Megaoperação Zimmer, deflagrada pela Polícia Civil, por meio do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic), com o apoio das polícias Militar e Federal, cumpre mandados na Bahia, Sergipe, Espírito Santo, São Paulo, Santa Catarina e Pernambuco. Em Salvador, a operação aconteceu nos bairros da Graça, Engomadeira, São Marcos e Stella Maris. Conforme a polícia, 23 suspeitos foram presos na capital baiana, dois em Feira de Santana, um em Lauro de Freitas, um em Camaçari, quatro em Porto Seguro e um em Eunápolis. Também ocorreram prisões em outros estados: um em Aracaju (SE); um em Petrolina (PE); dois no Espírito Santo, sendo um em Novo Rio do Sul e outro em Linhares; dez prisões em municípios do estado de São Paulo. O capitão da Policia Militar Mauro Grunfeld é um dos alvos presos Reprodução/Redes sociais 📲 Clique aqui e entre no grupo do WhatsApp do g1 Bahia Além das prisões, a ação também resultou no cumprimento de 47 mandados de busca e apreensão, o que levou ao recolhimento de 30 aparelhos celulares, R$ 35.400 em espécie, três veículos, três motocicletas, e joias de ouro, como correntes, pulseiras, brincos, pingente e anéis. Além disso, a Justiça autorizou o bloqueio de R$ 100 milhões, além do sequestro de bens dos investigados. Megaoperação prende 46 pessoas na BA e em outros 5 estados por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e disputa de territórios Divulação/ Ascom PC Durante o cumprimento dos mandados, os policiais desarticularam dois laboratórios de entorpecentes em Porto Seguro e um no bairro de Stella Maris, na capital baiana. Nos locais e outros pontos de operação do grupo criminoso foram apreendidos: dois fuzis; duas armas de fogo; um simulacro de pistola; dois carregadores; munições; uma maquineta; computadores; cadernos de anotações; uma prensa hidráulica Mecol; balanças; sacos contendo substâncias análogas à cocaína que serão periciadas; sacos grandes de material em pó branco; munições de fuzil calibre 5,56; câmeras de monitoramento; além de tabletes e porções de drogas sintéticas, maconha e cocaína. Todo o material recolhido será periciado e servirá de apoio às investigações. De acordo com o delegado Thomas Goldino, diretor do Deic, os presos possuem ligação com o tráfico internacional de drogas. “Algumas pessoas presas em São Paulo confessaram que levariam drogas para Paris, na França. O grupo criminoso também praticava lavagem de dinheiro, utilizando laranjas e proprietários de pequenos comércios, como uma sorveteria, uma bomboniere e uma loja de água. Havia ainda envolvidos ligados a empresas fantasmas e pessoas que forneciam seus nomes para fraudes, inclusive beneficiários de programas sociais que movimentaram entre um e dois milhões de reais”, explicou. Megaoperação prende 46 pessoas na BA e em outros 5 estados por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e disputa de territórios Divulgação/Ascom PC Megaoperação prende 46 pessoas na BA e em outros 5 estados por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e disputa de territórios Divulgação/Ascom PC Investigações começaram a partir da apreensão de quase uma tonelada de drogas em hotel de luxo As investigações começaram após três pessoas serem presas com quase 1 tonelada de drogas em outubro de 2023. Na época, parte do material foi encontrado em um quarto do hotel de luxo Astron, que fica na Avenida Tancredo Neves, em Salvador. Já a outra parte, em um condomínio de alto padrão, no bairro de Jauá, na cidade de Camaçari. A polícia informou que uma complexa associação criminosa foi identificada durante as apurações. O grupo é apontado como responsável pelo abastecimento, produção e preparação de entorpecentes, como também a utilização de pessoas físicas e jurídicas para dissimular a origem ilícita dos valores movimentados. Durante o cumprimento dos mandados de prisão e de busca e apreensão, dois laboratórios de entorpecentes foram desarticulados em Porto Seguro e no bairro de Stella Maris, em Salvador. Nos locais, foram apreendidos insumos, equipamentos e drogas prontas para comercialização. Armas e munições também foram localizadas. A polícia informou que a operação segue em andamento para encontrar os outros alvos. Em nota, a Polícia Militar informou que a Corregedoria da corporação realizou o cumprimento do mandado de prisão de Mauro Grunfeld, por causa da necessidade de aprofundamento de investigações sobre o possível envolvimento do militar nos crimes. A insituição reafirmou ainda o compromisso permanente com a legalidade, a disciplina institucional e a ética profissional. Operação contra o tráfico de drogas e armas acontece em Salvador Conversas interceptadas Ex-subcomandante da 41ª Companhia Independente (CIPM/Federação-Garcia) e condecorado pela corporação como "policial militar padrão do ano de 2023" pelo "fiel desempenho nos serviços prestados", Grunfeld foi preso preventivamente em maio deste ano. Ele e outras 19 pessoas foram alvos de mandados de prisão da Operação Fogo Amigo, que desvendou o esquema criminoso da organização batizada como "Honda". A suposta participação do capitão Mauro Grunfeld no esquema de compra e venda de armas que abastecia facções criminosas na Bahia foi revelada por meio de conversas em aplicativos de mensagens. As informações foram interceptadas pela Polícia Federal, em investigação conjunta com o Ministério Público do Estado (MP-BA). RELEMBRE: Conversas interceptadas mostram atuação de capitão da PM-BA em esquema de tráfico de armas para facções criminosas, dizem PF e MP Esquema de venda de armas para facções expõe policiais 'atuando como bandidos'; entenda como militares auxiliavam o tráfico Na época, o capitão negou as acusações. A defesa dele disse que as armas eram compradas para uso pessoal. De acordo com a apuração conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), de Investigações Criminais Norte e das Promotorias Criminais da Comarca de Juazeiro, o capitão era um "contumaz negociador de armas e munições". Grunfeld foi descrito como o principal remetente de dinheiro para Gleybson Calado do Nascimento, também policial militar da Bahia e apontado como um dos maiores operadores do esquema que movimentou quase R$ 10 milhões entre 2021 e 2023. Um documento sigiloso, obtido pela TV Bahia, aponta que entre 18 de fevereiro de 2021 e 13 de fevereiro de 2022, o capitão transferiu R$ 87.330,00 para Nascimento. "Os diálogos entre os dois indivíduos não deixam nenhuma dúvida de que os altos valores transacionados, demonstrados abaixo, referem-se à comercialização de armas de fogo e munições. Denota-se, da conversa, que a negociação entre eles é algo permanente, habitual, comum, sem nenhuma formalidade", indica um trecho do material. Confira algumas transações: Em 26 de setembro de 2023, por exemplo, Grunfeld teria negociado com Gleybson. "Manda o pix", escreveu o capitão, se referindo à chave necessária para a transferência e questionando também o valor. Conversas interceptadas mostram atuação de capitão da PM-BA em esquema de tráfico de armas Imagem retirada do dossiê da investigação da PF e MP-BA. Em 29 de setembro do ano passado, outra conversa mostrou que Grunfeld também era vendedor. "Apareceu pedido de 5 cartelas de 7.65", enviou o policial. Ele se referia ao tipo de cartucho para uma pistola. Conversas interceptadas mostram atuação de capitão da PM-BA em esquema de tráfico de armas. Imagem retirada do dossiê da investigação da PF e MP-BA. Em 1º de outubro de 2023, uma nova conversa mostra Gleybson oferecendo um revólver a Grunfeld por R$ 4,5 mil. Conversas interceptadas mostram atuação de capitão da PM-BA em esquema de tráfico de armas Imagem retirada do dossiê da investigação da PF e MP-BA. A investigação também aponta que essas armas e munições tinham destino específico: "criminosos faccionados que atuam no Bairro do Calabar, em Salvador". As negociações seriam intermediadas por traficantes de drogas. Diante desses indícios, Grunfeld foi alvo de mandados de prisão preventiva e busca e apreensão — na Academia da Polícia Militar, na Boa Viagem, e na residência dele, no bairro da Graça, ambos endereços em Salvador. Porém, os agentes encontraram uma pistola sem o devido registro na casa e realizaram a prisão em flagrante. O capitão alegou que a arma foi adquirida de um policial civil e que a propriedade seria de outra agente, mas disse não saber informar nome ou lotação da servidora. Ele argumentou também que fez a compra porque precisava de defesa pessoal e policiais militares estariam com "dificuldades burocráticas" para obter o artefato. Esquema de compra e venda de armas Operação da Polícia Federal mira quadrilha especializada na venda ilegal de armas no Nordeste. Divulgação/PF A operação que prendeu 19 pessoas, dentre elas 10 militares, foi deflagrada em 21 de maio de 2024. Policiais da Bahia e de Pernambuco, além de CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) e lojistas, são suspeitos de integrar a organização criminosa especializada em vender armas e munições ilegais para facções criminosas. Os mandados foram cumpridos em Arapiraca, no estado de Alagoas; em Petrolina, no estado de Pernambuco; e em Juazeiro, Salvador, Santo Antônio de Jesus, Porto Seguro e Lauro de Freitas, na Bahia. De acordo com a Polícia Federal, o modus operandi do grupo consistia em reter armamentos apreendidos em operações policiais. Ao invés de apresentar o material na delegacia, os suspeitos revendiam essas armas para organizações criminais. Já a obtenção de armas novas era feita por meio de laranjas. Os investigados pagavam pessoas sem instrução, geralmente da zona rural das cidades e sem antecedentes criminais, para tirar o Certificado de Registo do Exército (CR) — necessário para obtenção do CAC. Eles custeavam todo o processo para o laranja conseguir o documento. Garantido o registro, a pessoa comprava o artefato em lojas especializadas, também ligadas ao esquema, depois registrava um boletim de ocorrência por furto e dava a arma como extraviada para que não fosse conectada ao comprador final. Se por alguma razão, esse procedimento não fosse feito, o número de série era raspado ou refeito. Salário de R$ 8 mil e ostentação nas redes sociais Capitão da PM exibia fotos em iates, passeios em restaurantes caros e viagens. Reprodução/Redes sociais Oficial da PM há 17 anos, o capitão informou que recebe salário fixo de R$ 8 mil. Como bens, declarou apenas ser proprietário de um apartamento, estimado em R$ 700 mil, e possuir R$ 20 mil no banco, em conta poupança. Seu estilo de vida, no entanto, era luxuoso. Nas redes sociais, o capitão da PM exibia fotos em iates, passeios em restaurantes caros e viagens a destinos turísticos badalados, como a Ilha de San Andrés, na Colômbia. Flagrante revogado Armas e munições apreendidas pela Polícia Federal em operação contra venda ilegal de armamentos. Polícia Federal/Divulgação Ao analisar o caso, a 26ª Promotoria de Justiça Criminal da Capital, área do MP-BA não vinculada à investigação principal, pontuou que "não há qualquer elemento probatório ou mesmo fático que aponte para eventual participação do custodiado em organização criminosa ou que reitere na prática de crimes". O órgão ponderou que o procedimento criminal está sob sigilo, o que impede os promotores de acessarem o conteúdo, sendo o juízo da Vara Criminal de Juazeiro o "único órgão julgador que detém o real conhecimento das imputações porventura irrogadas em desfavor do custodiado". A partir dessas ponderações, em 21 de maio de 2024, o MP-BA se pronunciou pela liberdade provisória com pagamento de fiança. No dia seguinte, na audiência de custódia, a Justiça acatou os argumentos e concedeu o benefício da provisória ao capitão. Mas a juíza em questão não expediu alvará de soltura para que fosse cumprido o mandado de prisão preventiva em aberto. Assim, na mesma data, a preventiva foi cumprida. Investigação por homicídio doloso Mauro Grunfeld é oficial da PM há 17 anos. Reprodução/Redes sociais Mauro Grunfeld é alvo ainda de um inquérito por homicídio doloso durante o exercício da função como policial militar. O caso é de 10 de abril de 2013, quando ele era tenente e comandante de uma guarnição da Ceto (Companhia de Emprego Tático Operacional) em atuação no município de Santa Cruz Cabrália. O registro da ocorrência diz que Grunfeld e outros quatro soldados faziam ronda noturna na Rua A, no bairro 5º Centenário — local descrito como sede de "intenso tráfico de drogas". Ao se aproximar da área, a guarnição teria sido "recebida a tiros por cerca de quatro a cinco indivíduos, sendo forçada a usar da força necessária, revidando os tiros". Um deles seria um jovem de 18 anos, atingido com pelo menos quatro tiros. A corporação o encaminhou para uma unidade de saúde, mas o rapaz já chegou sem vida. Em depoimentos, a família negou que o rapaz tivesse envolvimento com o crime. O irmão mais novo da vítima, que viu o jovem ser baleado, defendeu que ele teria corrido apenas por medo do tiroteio. A Polícia Civil concluiu o inquérito sem pedir o indiciamento dos militares. A instituição remeteu o processo ao Ministério Público da Bahia tratando o caso como "homicídio privilegiado" — termo usado para situações em que o autor age sob forte emoção ou provocado pela vítima. Esses casos não preveem uma tipificação diferente do crime, mas implicam redução de pena. Com a Justiça, o processo não avançou muito. Ainda em 2013, o MP-BA apontou "a precariedade e a pobreza dos (pouquíssimos) elementos de convicção colhidos e acostados aos autos do inquérito policial". Os promotores pediram uma série de providências, como novo exame no local do fato, juntada de fotografias do cadáver e esclarecimentos sobre os disparos que atingiram a vítima. Dez anos depois, o MP-BA reforçou a cobrança, mas não há registro de que a Delegacia de Santa Cruz Cabrália tenha retomado a investigação até o momento. Reportagem em atualização Veja mais notícias do estado no g1 Bahia. Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia 💻